Vila Nova
de Foz Côa recebeu o seu primeiro foral em 1299, concedido por D. Dinis, tendo
sido renovado pelo mesmo monarca em 1314. Em 1514, foi concebido um novo foral
por D. Manuel I. No concelho destacam-se vários monumentos entre os quais estes
três Monumentos Nacionais: o castelo de Numão, o Pelourinho de Vila Nova de Foz
Côa e a Igreja Matriz da mesma vila, com uma fachada manuelina.
Os
vestígios da ocupação humana, mais ou menos intensa, prolongam-se pelos tempos
castrejos e romanos. Os escassos testemunhos do período suevo-visigótico e
árabe garantem, contudo, a continuidade dos núcleos populacionais. Contrariando
as vicissitudes próprias das terras fronteiriças nestas paragens, a vida
comunitária revelou-se regular e contínua, a partir do século X.
O
interesse régio e senhorial, no sentido de promover o povoamento e
desenvolvimento desta região, foi confirmado através da concessão de cartas de foral aos habitantes das povoações,
conferindo-lhes importância jurídico-administrativa. No Séc. XIX, apesar de ter sido cenário de desordens, de
perseguições e lutas fraticidas (a guerrilha dos Marçais espalhou o terror na
região) que acompanharam a implementação do liberalismo, a vila de Foz Côa
assumiu a liderança do concelho, após vários condicionalismos que justificaram
a substituição ou absorção de algumas sedes concelhias, nomeadamente as
múltiplas reformas administrativas oitocentistas. Não obstante, os oito pelourinhos que resistem desde então, na área do
actual concelho, testemunham a autonomia municipal e são
o símbolo da ancestral vida comunitária na Região.
No termo
da freguesia de Mós do Douro encontrámos vestígios de ocupação milenar nos
lugares de Campanas e Castelo Velho. Tratar-se-ão de pequenos povoados
fortificados da Idade do Bronze, a avaliar pelas notícias de achados que
chegaram até nós.
Ao
contrário do que se passa no Noroeste Peninsular, na região da terra quente do
Douro a civilização castreja assentou arraiais não no cimo dos montes mas antes
em planaltos ou pequenas elevações encaixadas em vales. Daí que no I milénio
antes de Cristo os homens do ferro se tivessem fixado na zona do Castelo, lugar
esse depois Romanizado e constituído por uma pequena Vicus, isto a avaliar pela
áreaem que predominam os vestígios de materiais daquele período. Sepulturas e uma
inscrição funerária (fechando com as comuns siglas S.T.T.L. - que a terra te
seja leve), entre outros materiais, atestam essa ocupação.
Outros
lugares do termo de Mós devem ter tido ocupação (quer no período de ocupação
Romana, quer na Baixa ou Alta Idade Média) casos da Aldeia Velha, lugar das
Fontaínhas (muitas vezes citadas como Fontanas).
Em 1380,
o concelho de Numão reuniu para nomear o seu procurador às cortes de Torres
Novas. Segundo a procuração, coube essa incumbência a João Eanes, da aldeia das
Mós. No mesmo documento assina ainda, como testemunha, Gonçalo Martins, também
das Mós.
Tinha a
freguesia no século XVI um núcleo populacional de certa importância, 52
moradores segundo o censo de 1527, que pagavam à sua abadia uma renda de 20.000
réis no segundo quartel do século. Ainda no campo dos rendimentos
eclesiásticos, sabe-se que o Bispo cobrava aqui a taxa de 2.000 réis por
direitos de confirmação dos párocos.
Em meados
do século XVI, a igreja das Mós era dos Condes de Marialva, a quem pertencia o
direito de nomear os párocos. Posteriormente, uma bula de 14 de Março de 1583,
permitiu a transferência da sua posse para a Universidade de Coimbra, ficando
as suas rendas a reverter para os cofres universitários. Recorde-se que na
época era comum as universidades possuírem os seus próprios rendimentos, o que
lhes permitia serem autónomas financeiramente. A ligação à Universidade coimbrã
ainda hoje é visível em numerosas epígrafes a indicarem os limites das
propriedades universitárias.
Em termos
monumentais é o século XVIII que se evidencia, sendo datados desse período a
denominada Casa do Campos ou Campinhos e a Igreja Matriz. Nesta época, as Mós
possuíam já uma população de 317 habitantes.
A
transição do paganismo para o cristianismo deve ter sido feita sem grandes
choques já que até ao século XVIII ali se manteve, no mesmo local (Castelo) a
Igreja Matriz (hoje cemitério). Nos finais desse século, atendendo ao
crescimento da população e expansão da área urbana para poente, a Igreja foi
transferida para o Largo do Terreiro.
Como
todas as povoações de entre Douro e Côa deve ter recolhido famílias judaicas.
Uma inscrição característica de «voto de cristão-novo» encima uma das portas de
uma casa na Rua do Castelo.
No século
XVIII uma família enobrecida marcou certamente a economia da aldeia,
florescendo graças ao aproveitamento do Sumagre, da cultura da vinha, azeite e
amêndoa. Já em 24 de Março de 1758 o Abade de Mós, respondendo ao inquérito
mandado elaborar pelo marquês de Pombal, em todo o reino, respondia assim:
"Os frutos desta terra que os moradores recolhem com maior abundância são
azeite, pão de trigo, centeio, cevada, lentilhas, sumagre, vinho, amêndoas,
cebolo; o pão e o vinho é o melhor."
Desses
tempos chegou até nós uma casa apalaçada, com brasão, conhecido por Solar dos
Assecas. Pertenceu ao primeiro Barão de Foz Côa, Francisco António Campos e foi
posteriormente adquirida pela família Gaspar.
Teve a
freguesia de Mós do Douro, no seu historial, homens ligados às correntes
progressistas. Em pleno desabrochar do Liberalismo, alguém, muito convicto dos
valores da revolução, mandou gravar por cima da porta de sua casa as palavras
«Et Pluribus Unum - 1820» (um por todos e todos por um) frase essa que se
adapta bem ao lema das revoluções de então, cunhadas com a trilogia da
libertação assente na Liberdade - Igualdade - Fraternidade.
As Mós
sofreram nos princípios do século XIX a entrada das tropas napoleónicas, após
estas terem ocupado Freixo de Nurnão em 26 de Janeiro de 1811. A população
impossibilitada de resistir abandonou a povoação refugiando-se nos montes
próximos do Janvâo, com excepção do pároco P. António de Almeida. As lutas
fratricidas entre liberais e absolutistas não pouparam também as Mós, que viu
morrer nas operações do cerco do Porto o soldado Bernardo António Rolo e mais
tarde José Polido, assassinado pelos partidários dos Marçais.
O
crescimento populacional verificado entre os séculos XIX e XX deve-se,
certamente, à linha férrea do Douro, à construção da estação de Freixo e à
grande ocupação que foi dada, aos moradores de Mós, pelos Caminhos de Ferro
Portugueses.
Esta
Paróquia (no dizer do padre Manuel Gonçalves da Costa - obra "Diocese de
Lamego") nunca constituiu centro nem cível nem eclesiasticamente
independente, mantendo-se sempre anexa a Freixo de Numão, embora de princípio o
pároco usufruísse de passais próprios com obrigação de missas, e fosse
apresentado pelo povo. Como sucedeu com Freixo, as suas rendas foram aplicadas
à Universidade de Coimbra a 14 de Março de 1538.
Em meados
do século XVIII tinha três ermidas (sendo todas do povo e nenhuma particular):
a de Santa Bárbara, num cabeço defronte do povo e à distância de um tiro de
mosquete; uma no meio do povo, que é da Senhora da Graça, que era onde estava o
Santíssimo; outra no fundo do povo, que é de Santo António.
Toda a
margem do Douro, em pleno termo de Mós, foi palco de grande azáfama no tempo da
ocupação romana, isto porque as areias continham muito ouro. Era a corrida à
extracção do «ouro de aluvião»! No entanto, em 1758, no inquérito atrás citado,
terminava o abade de Mós com a seguinte descrição: "Achei que haverá 30 a
40 anos chegaram uns homens estranhos com instrumentos de escudelas e que
tomavam areias do rio e que depois as purificavam e que as botavam em taleigas e
que diziam que era oiro o que levavam!" Hoje, com o rio parado pelas
albufeiras das barragens, ninguém mais se atreverá a purificar as areias em
busca do oiro!
Em 1854
deixa de pertencer ao concelho de Freixo de Numão e integra concelho de Vila
Nova de Foz Côa.
Visitar Vila Nova de Foz Côa
é redescobrir a história, é acompanhar o processo milenar que desvenda o
património artístico e cultural em complementaridade com a rusticidade e a
beleza paisagística que a região encerra e que merece a sua fruição.